quinta-feira, 27 de março de 2008

Uma história da vodca

"A cachaça é a bebida típica brasileira, bebida nacional, que se obtém da cana-de-açúcar. Esta aguardente provém de matéria prima local. Em outras palavras, a cachaça é nacional por sua matéria-prima, por seu sabor, por seu aroma, associado à natureza do Brasil e às frutas da terra de clima tropical.
A vodca se diferencia muito da cachaça. Ela nasceu nos sombrios rincões do Norte, com suas geadas, suas neves. Deve ser tomada pura, sem que lhe acrescentemos absolutamente nada. Já não é mais vodca se a tomarmos com gelo, limão, tônica, etc. Isso seria um coquetel: vodca com ingredientes que lhe dão diferentes sabores ou matizes atrativos para o paladar. A vodca deve ser tomada pura, sem ser diluída em algo em nenhuma circunstãncia, e exige o acompanhamento de comida abundante, picante, defumada, gordurosa. Não tem a menor pretensão de ser atraente, de agradar. Não tem gosto nem cheiro particular - é neutra, incolor. Sua classe está na sensação de pureza que lava de vez todos os sedimentos e em seu poder de penetração que atinge a garganta, a cabeça e vai direto ao coração. É uma bebida para pessoas de vontade forte. Os que dela abusam sem cuidado, ela transforma em escravos".
Estes são, literalmente, os dois primeiros parágrafos do prefácio de "Uma história da vodca", escrita por W.V. Pokhlióbkin, exclusivamente para a edição brasileira (Editora Ática S.A. - 1995).
W.V. Pokhlióbkin, membro do Instituto de História da Academnia de Ciências de Moscou, é autor de uma história do hábito de beber chá e de uma história política da Escandinávia. "Uma história da vodca", que ganhou na Itália o prêmio Ceretto de 1993 para melhor obra sobre vinhos e bebidas alcoólicas, traça um panorama sobre as origens das bebidas alcoólicas na Rússia, sobre a produção e o controle desta bebida típica, sobre a relação da vodca com o poder, entre outros assuntos e ainda nos premia com apêndices interessantes sobre a "importância gastronômica da vodca" ou, ainda, sobre "os efeitos do álcool no corpo humano".
O livro é tão bem feito, com rigor historiográfico e científico, que chega a provocar inveja em nós, produtores e consumidores de cachaça de alambique. Cadê a nossa Academia?

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