quarta-feira, 28 de maio de 2008

Censo da Produção e do Consumo

A propósito da nota abaixo, em que falamos da necessidade de uma política pública para as bebidas alcoólicas no Brasil, é importante considerar que o mundo caminha para um cenário de progressivas restrições à propaganda, à fabricação e ao consumo de bebidas alcoólicas, da mesma maneira que ocorreu com o tabaco. Da mesma forma que o Ministério da Saúde, os produtores de cachaça de alambique e os consumidores que sempre lidaram com a bebida de forma responsável, têm demonstrado que concordam que a bebida alcoólica não é um produto qualquer e que medidas de defesa social devem ser tomadas. A situação atual prejudica a todos. Não concordamos com o "proibicionismo", por entender que mais prejudica do que favorece a sociedade, mas defendemos o controle social da indústria de bebidas alcoólicas, traduzido, prioritariamente, no monitoramento mais preciso possível da produção e consumo, base científica de qualquer medida relativa ao setor.
A Federação Nacional das Associações dos Produtores de Cachaça de Alambique (FENACA) tem reiterado a necessidade de "um amplo e minucioso censo da produção e consumo de bebidas alcoólicas". Trata-se de uma medida de médio prazo, uma vez que, dada a sua complexidade, necessita do desenvolvimento de metodologias específicas. Mas plenamente realizável e que, em alguma hora, tem que começar. E, voltamos a afirmar, a iniciativa cabe ao Governo, através de seus orgãos competentes.

Câmara aprova bebidas nas estradas

A Câmara Federal aprovou ontem o projeto que libera a venda de bebidas no perímetro urbano das rodovias federais. Ao mesmo tempo, torna mais rigorosas as penas para os motoristas que dirigirem depois de consumir álcool, mesmo que não se envolvam em acidentes.
Quem for flagrado com qualquer índice de álcool no sangue estará sujeito a pagamento de multa e retenção da carteira de habilitação por um ano. Se o índice estiver acima de 0,6 grama por litro de sangue, ficará sujeito a prisão de 6 meses a 3 anos. Pelo novo texto, o motorista embriagado que se envolver em acidente com morte poderá ser processado por homicídio doloso (pena de 6 a 20 anos de prisão) e não mais por homicídio culposo com agravante, que permitiria pena máxima de 6 anos. Esta mudança foi aprovada no Senado e mantida na Câmara.
A decisão da Câmara mostra que o Governo não pode tratar a questão das bebidas alcoólicas e do alcoolismo com "rompantes", com paliativos, com "medidas pra inglês ver", como fez recentemente com a edição da Medida Provisória que proibiu a venda de bebidas nas estradas. O Governo e a sociedade precisam entender que o Brasil carece de uma política pública para as bebidas alcoólicas, construída de forma ampla e participativa. E já está passando da hora de tomar alguma iniciativa concreta neste sentido.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Deu no Luis Nassif (http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=7571):

OMS quer controlar o álcool

Nota importante, e meio perdida no noticiário de hoje. Matéria de Jamil Chade, o excelente correspondente do Estadão em Genebra.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a abertura de negociações para a criação de uma estratégia mundial de controle do consumo excessivo de álcool. A aprovação foi seguida de perto ontem em Genebra pelas fabricantes de bebidas, inclusive a Inbev, que enviou representantes brasileiros para a reunião. O Itamaraty e outros governos confirmaram ao Estado que as empresas fizeram lobby nos últimos dias nos corredores das Nações Unidas.

O Brasil é visto como um dos mais problemáticos em termos de consumo de álcool.

Segundo o Itamaraty, a resolução foi "fraquíssima", muito em função da pressão do governo dos Estados Unidos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Campanha ensina a beber

Com uma campanha publicitária de 6 milhões de libras (quase 20 milhões de reais), o governo britânico quer ensinar os consumidores a beber. Pretende informá-los sobre os limites do álcool e quantas "unidades" estão contidas nas bebidas mais comuns.
Para a Ministra britânica Dawn Primarolo, secretária para Saúde Pública,o objetivo da campanha é informar o número de unidades de álcool contidas nas bebidas sem fazer julgamentos, permitindo que os consumidores tomem suas próprias decisões.

Pesquisa

Segundo uma pesquisa encomendada pelo Departamento de Saúde britânico para coincidir com o lançamento da campanha, três quartos dos consumidores entrevistados não sabem que um típico copo de vinho contém três unidades de álcool.
A pesquisa, que entrevistou 1.429 consumidores de álcool na Inglaterra, concluiu que mais de um terço não conhecia o limite diário recomendado – de duas a três unidades alcoólicas para mulheres e três a quatro para homens.
De acordo com a BBC de Londres, "as autoridades temem que os consumidores não tenham percebido o aumento no tamanho dos copos e o fato de que algumas bebidas se tornaram mais fortes. Metade dos entrevistados consome álcool pelo menos duas ou três vezes por semana".

A Associação Brasileira de Estudos do Álcool (ABEAD), preparou uma tabela sobre o que seria considerada uma unidade de álcool em diferentes tipos de bebidas:

(unidade - quantidade de álcool X volume da bebida)

1 copo de cerveja ou chopp

1/2 dose de cachaça, whisky ou qualquer tipo de destilados
(cachaça, vodka,gin,cognhac,etc)

1 copo típico de vinho

1 taça de champagnhe

1 cálice de licor ou vinho do porto

= 1 UNIDADE / 1 DOSE

Concentração X Unidades


Existem cervejas que têm uma concentração de álcool maior, como por exemplo as cervejas maltadas se comparadas com as cervejas comuns. O mesmo acontece para alguns tipos de vinhos. No rótulo das bebidas você encontra a concentração alcoólica, ou pelo menos deveria encontrar. No geral, as concentrações são :

Cerveja = 5 a 7 %

Vinhos = 10 a 12%

Licores e vinhos fortificados = 16%

Destilados = 40 a 50%

CONCLUSÃO (da ABEAD): "O fator de análise é a quantidade consumida de álcool, que irá variar conforme a concentração alcoólica e não a quantidade de líquido propriamente dita. Basta comparar um copo de chopp com meia dose de cachaça. A quantidade de líquido é bem diferente, mas a quantidade de álcool é a mesma".

A grande maioria dos produtores de cachaça de alambique, há mais de 10 anos, já reduziram o teor alcooólico das bebidas que produzem. Apesar da lei brasileira permitir a graduação alcoólica para cachaça entre 38º/gl e 48º/gl, a cachaça de qualidade tem variado entre 39º/gl e 42º/gl. As associações de produtores de cachaça de alambique são pioneiras no Brasil em apregoar o consumo moderado e responsável de bebidas alcoólicas.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Saúde e imposto

O Ministro da Saúde, José Ramos Temporão, em toda essa discussão em curso sobre tributação, avisa que bebida e fumo podem dar mais verba à Saúde. O Ministro defende que estes setores podem contribuir ainda mais.
Mas o próprio Ministro reconhece que o potencial de arrecadação destes setores é insuficiente para a Saúde e, por isto, defende, ainda, a criação de uma nova CPMF (Agência Estado, 19/05).
Até aí tudo bem. Mas deve o Sr. Ministro levar em conta, que os pequenos produtores de cachaça chegam a pagar até 16 vezes mais IPI que grandes produtores, uma situação insustentável, e que não é prática em nenhum lugar civilizado do mundo. Se o governo quer arrecadar mais com a bebida, que comece por promover a isonomia tributária. E isto é o mínimo, porque, na maioria dos países, os pequenos são protegidos em relação aos grandes. E mais: em se tratando de saúde, o Ministro Temporão deve notar que, no mundo da cachaça, os pequenos produtores são responsáveis por colocar no mercado cerca de 250 milhões de litros/ano de cachaça contra mais de 1 bilhão de litros das grandes indústrias de aguardente. E que este mercado é extremamente concentrado, com quatro empresas colocando no mercado cerca de 50% deste total. Por que não cobrar o imposto sobre o teor alcoólico (atendendo aos princípios mais rasteiros da tributação - o que levaria à isonomia tributária, ou taxar a escala de produção - atendendo aos princípios mais básicos da Saúde e recomendados pela OMS, que é a compensação pelos danos causados e a redução do consumo de álcool? Como diria Mino Carta, isto é compreensível até pelo mundo mineral.
Com a palavra, a Saúde.

sábado, 17 de maio de 2008

Um imenso canavial

Nos últimos três anos, o crescimento da área plantada de cana-de-açúcar em São Paulo tem sido impressionante. Até 2005, o produto ocupava 3 milhões de hectares de toda a área cultivada. No ano seguinte, saltou para 3,5 milhões, e, em 2007, para 4,2 milhões. São Paulo responde por cerca de 70% do total de cana-de-açúcar produzida no país.
Hoje, de um total de 8,5 milhões de hectares de área cultivada, cerca de 5 milhões- mais da metade- já são ocupados pela cana-de-açúcar, e o Governo do Estado, através da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, decidiu suspender por 120 dias o recebimento de pedidos de instalação ou ampliação de novas usinas de açúcar e álcool. O receio é de que a cana-de-açúcar no estado acabe se tornando uma monocultura. Ou, como previram Chico Buarque e Ruy Guerra em seu clássico "Fado Tropical": "Oh, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/Ainda vai tornar-se/Um imenso canavial".

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Cachaça em Rondônia

O processo de regionalização da cachaça de alambique continua em pleno vapor. Rondônia, um dos poucos estados brasileiros que ainda não produzia a cachaça de qualidade, saiu recentemente da lista, com o lançamento da cachaça Sucuri. Produzida em alambique de cobre e envelhecida em tonéis de carvalho, a cachaça Sucuri tem a matéria-prima cultivada em uma área de 8 hectares na propriedade localizada há 756 km de Porto Velho, na BR-364, bem na divisa com o Estado do Mato Grosso. O local é parada obrigatória para viajantes, principalmente caminhoneiros.
A regionalização da produção e do consumo da cachaça de qualidade segue um processo que parece irreversível.Com a disseminação dos conceitos técnicos de produção aliados às boas práticas de controle, fica cada dia mais evidente que não se justifica uma cachaça viajar milhares de quilômetros, em razão apenas da "força da escala" (sair de S. Paulo ou do Ceará, por exemplo, para atingir extremos opostos no País), se ela pode ser produzida, gerar empregos, impostos e divisas em sua própria região.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Cachaça de alambique e cachaça de coluna



Grupo de pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), liderados pelos professores Dr. Douglas Wagner Franco e Dr. Roni Vicente Reche divulgou recentemente resultado de pesquisa realizada naquela unidade que demonstra de forma inequívoca a possibilidade de diferenciação em laboratório dos dois tipos de produtos existentes no mercado brasileiro, a cachaça de alambique e a aguardente industrial, também conhecida como cachaça de coluna. O grupo de pesquisadores sugere que os órgãos competentes incluam nas especificações legais de cada produto o perfil físico-químico ampliado no que diz respeito aos componentes que podem e devem ser mensurados nas análises a serem executadas pelos laboratórios de todo o país. O trabalho já foi publicado em revista científica reconhecida internacionalmente e o grupo solicitou patente sobre o processo desenvolvido.
Transcrevemos a seguir parte da conclusão dos pesquisadores:

“Existe um desejo manifesto dos produtores de cachaça artesanal em diferenciar seus produtos das ditas industriais. Este certamente é um item da tipificação da cachaça e que até o presente momento carecia de um
embasamente técnico para o seu controle e a inclusão no rótulo da bebida.
Considerando que os compostos: benzaldeído, formaldeído,
propionaldeído e acetaldeído (expressos como acetaldeído), isobutanol,
5-HMF, ácido acético, cobre e carbamato de etila são controlados pela
Legislação Brasileira, a adição de apenas dimetilsulfeto e butanol aos itens
já controlados e seu tratamento pela metodologia descrita neste estudo irá
atender a esta reivindicação dos produtores”.


Caso haja interesse em conhecer todo o conteúdo do trabalho dos professores, envie uma solicitação para: cmc@clubemineirodacachaca.com.br

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cachaça patrimônio

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o pedido de registro de patrimônio cultural nacional para o queijo artesanal de Minas, a exemplo do que já ocorreu com o samba do Rio de Janeiro e com o frevo.
A honraria, no entanto, não vale para qualquer queijo artesanal. O produto precisa ter sido elaborado a partir do processo tradicional como acontece nas regiões do Serro, Araxá, Serra da Canastra e Alto Paranaíba, em Minas Gerais.
No final de junho deve ser votado o registro de patrimônio cultural da capoeira. Pois bem: e a cachaça de alambique, única bebida nacional brasileira?

Cachaça no Rio

A Cidade do Samba, localizada na zona portuária do Rio de Janeiro, mais precisamente na Gamboa, vai abrigar entre os dias 12 e 14 de junho, a II Feira Internacional da Cachaça, a FEICA RIO. Entre os objetivos de seus organizadores está o de aproximar e integrar produtores, compradores e exportadores, além de contribuir para a popularização da cachaça de qualidade entre os consumidores. A FEICA oferece nos três dias um excelente conjunto de palestras e cursos, tanto para produtores quanto para os consumidores. Mais informações podem ser obtidas no endereço: hilda@feica.com.br

terça-feira, 6 de maio de 2008

Cachaça e aguardente

O Congresso Nacional abre as discussões para aprovação da Lei da Cachaça. Realmente, não faz sentido que a bebida nacional brasileira seja definida na mesma Lei que trata das bebidas alcoólicas em geral. O vinho possui uma Lei específica no Brasil.
O projeto da Lei da Cachaça é uma iniciativa do deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC) e procura atender antiga reivindicação dos produtores de cachaça de alambique (artesanais). As discussões para a elaboração da Lei da Cachaça abrem espaço para uma verdadeira "queda de braço" entre os produtores de cachaça de alambique e os produtores de aguardente industrial, que também exigem ser considerados como "cachaça". Os produtores de cachaça de alambique se alicerçam, entre outras coisas, nas peculiaridades sensoriais e fisico-químicas de seu produto, nos "usos e costumes", na história, nas raízes da produção da cachaça no Brasil, que teve início na primeira metade do século XVI. Os produtores de aguardente começaram a lançar seu produto no mercado na segunda metade do século XX e até recentemente se auto-denominavam produtores de "caninha" ou simplesmente "aguardente".

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Cachaça dá Samba

Lançado em 2007, mas ainda pouco divulgado, o excelente CD “Cachaça dá Samba”, idealizado e produzido pelo competentíssimo Henrique Cazes. O CD dá um gostoso passeio pela música popular brasileira que trata da cachaça, em ótimas interpretações de Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta. São canções de domínio público e de compositores como Noel Rosa, Zeca Pagodinho, Candeia, Moacir Luz e outros. O projeto gráfico traz rótulos de antigas aguardentes e é assinado pelo pesquisador da memória gráfica brasileira Egeu Laus.
O CD pode ser adquirido acessando o site www.deckdisc.com.br
Vale a pena reproduzir aqui um trecho do samba “Moenda Velha”, de autoria de Zeca Pagodinho e Wilson Moreira:

“Cachaça com bom tira-gosto
Se na goela passa
Aumenta a coragem
No peito e na raça
Eu trago a moleca pra junto de mim
Chego em casa tão bem
Quando bebo cana de alambique
Mas a de coluna me deixa sem pique
Não sei de onde venho, durmo no jardim”